domingo, 29 de agosto de 2010

A duração espiritual da vida


Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Se existe algo sobre o qual sempre se falou no transcurso das épocas, esse algo é a vida, já que, ao encerrar insondáveis mistérios para o próprio ser humano, ela se abre em dimensões quase que inabarcáveis para seu entendimento.
Um aspecto importantíssimo da vida é a sua duração. É comum considerar que essa duração se prolonga em razão dos anos que a pessoa consegue viver. Logicamente, ninguém haveria de objetar a essa crença. Porém, seria essa duração a única? Seria a que compreende, efetivamente, a existência como um todo? Pensamos que não, pois existe a duração espiritual, ou seja, aquela que fixa o uso do tempo na riqueza da realização individual. Esta duração não pode, portanto, ser medida pelos anos físicos, mas sim pelo tempo que cada realização deve significar como cômputo de duração.
A vida é longa quando a dominamos;
é curta quando ela nos domina.

Para esclarecer essa imagem e fazê-la acessível a qualquer compreensão, bastará observar um ser que tenha vivido oitenta anos sem haver realizado nada de valor. Terá vivido uma vida estéril, porquanto consumiu sua existência somando os dias, os meses e os anos, sem que se verificasse diferença alguma entre uns e outros. Em outras palavras, para ele os dias passaram sem deles se obter a menor recordação.

Podemos considerar igual em duração a vida deste ser, se a compararmos com a daquele que cultiva sua inteligência, move sua vontade com energia, projeta e realiza obras de importância e cumpre tarefas de uma envergadura tal que até chegam a interessar à própria humanidade e a beneficiá-la? E, ao alcançar este os 80 anos com um imenso labor cumprido, pode a duração de sua vida ser considerada idêntica à daquele outro que chega a essa mesma idade sem haver conseguido a produção dele? É lógico pensar que, ainda que a idade seja a mesma em ambos os casos, a duração é diferente, pois que ela deve ser considerada como maior ou menor de acordo com a intensidade com que se viva, ou seja, segundo as realizações levadas a efeito.

A vida é longa quando a dominamos, ou seja, quando dominamos tudo ou, pelo menos, uma grande parte do que nela existe. O ser humano tem um mecanismo mental que, sendo utilizado com inteligência e discrição, abre diante dele um mundo de possibilidades. Tem também um sistema anímico-emocional, chamado sensibilidade, que permite as mais claras percepções e, ao mesmo tempo, reforça no interior da pessoa impressões que, muitas vezes, a própria razão tarda muito a discernir. Conta também com todas as demais formas de expressão da natureza humana. Dominando com plena consciência as forças que representam cada uma dessas posses, pode multiplicar a duração da vida pelo valor de tempo que as realizações, fruto desse domínio, signifiquem.

O contrário de tudo isso ocorre quando é a vida que domina; sua duração então é breve, ainda que a idade acuse envelhecimento. Isso porque só se leva em conta como período de atividade construtiva a vida que, efetivamente, foi vivida como tal, pois a vegetativa, a que não mostra sinais de vida, é tempo morto ou perdido, que não pode ser computado como duração.